Flamengo: Jorge Jesus é inspiração da torcida e assombração dos sucessores

Apaixonados e influenciadores rubro-negros são reféns da devoção pelo técnico português, e o time não sai do lugar

Divulgação Flamengo: Jorge Jesus é inspiração da torcida e assombração dos sucessores

É ruim o trabalho de Tite no Flamengo. Com o melhor elenco do Brasil à disposição, ele entrega um time sonolento, sem sal, pasteurizado.


Após a pálida vitória sobre o Amazonas, pela Copa do Brasil, explodiu a ira de 40 mil flamenguistas no Maracanã e de milhões pelas redes sociais.


O ‘titismo” e o “flamenguismo” são como água e óleo.


A pergunta que fica: quem serve para o Flamengo que não seja Jorge Jesus?


A resposta que surge das arquibancadas e telas: ninguém.


Jorge Jesus é inspiração para a torcida e assombração para seus sucessores.


Desde a passagem meteórica do treinador português pelo clube, entre 2019 e início de 2020, o “flamenguismo” clama pelo retorno de seu Sebastião (Dom Sebastião I, rei de Portugal, desaparecido em 1587 na Batalha de Alcaber-Quibir. Sem descendentes, o culto à sua figura foi construído em torno da crença de que um dia ele retornaria para salvar Portugal de todos os seus problemas).


Como toda paixão popular, o Flamengo lida com extremos. O clube gera grande repercussão e tem cobertura vigorosa da mídia tradicional e da alternativa. O que abre espaço para uma produção de conteúdo declaradamente apaixonado e, muitas vezes, de cunho político-clubista.


Depois de Jesus o Flamengo teve oito treinadores. Quatro estrangeiros (Dome Torrent, Paulo Sousa, Vítor Pereira e Jorge Sampaoli) e quatro brasileiros (Rogério Ceni, Renato Portaluppi, Dorival Júnior e Tite). No período, venceu títulos importantes como Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores.


Nada serviu para abrandar a saudade rubro-negra.


As comparações serão sempre feitas com o ano santo de 2019. O próprio Jorge Jesus deve saber que é muito difícil que o universo conspire favoravelmente como naquela temporada. Ele sabe da paixão dos flamenguistas, e atiça a saudade, sem fazer promessas de reatar.


Jorge Jesus, se retornar um dia, também será vítima das comparações. Ele implantou no torcedor rubro-negro um parâmetro elevado de qualidade. Vitórias não bastam, é preciso que sejam avassaladoras. Conquistas devem ser dominações.


Enquanto Sebastião não reaparece para salvar o Flamengo, o time anda dois passos adiante e três para trás.